quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Evolução do Clima de Curitiba/PR

Em 766 meses de dados desde 1951, a estação oficial do INMET de Curitiba/PR não reportou dados por 51 meses. Entretanto, em 46 destes 51 meses foi possível substituir esses dados do INMET pela estação do Aeroporto da região, o Afonso Pena. Portanto, em apenas em 5 meses não se pôde contar com dados climatológicos de Curitiba/PR para se analisar a evolução climática da cidade/região. Isso é muito positivo dada a dificuldade de se conseguir dados completos para estações meteorológicas no Brasil. Destes 5 meses sem dados, um é de 1954, um de 1964 e três de 1972. Já as 46 substituições estão bastante pulverizadas. São elas:

1973: 9
1976: 6
1977: 10
1984: 1
1991: 1
1992: 3
1993: 4
1994: 1
1995: 4
1996: 4
2002: 1
2004: 1
2010: 1

Os dados de Curitiba mostram que a cidade esquentou 0,8C na média anual entre a década de 70 e a primeira década do novo milênio. Antes desse período de 40 anos Curitiba era mais quente, porém jamais como visto no período pós-2000. Ainda assim, não está sendo verificado, por ora, aquecimento nos 4 primeiros anos da atual década de 2010. A média anual de 17,9C está em comportamento lateral, estável

Diferentemente do que foi visto em Porto Alegre (análise consta aqui), a estação do ano que mais impactou esse aquecimento anual da capital paranaense foi o inverno (JJA). Houve um aquecimento de 0,6C entre a antiga normal (61/90) e a atual em construção e quase finalizada (91/14). Entretanto, ainda que de forma incipiente devido à pequena base de anos, já é possível verificar uma reversão desta tendência de aquecimento dos invernos curitibanos, pois o JJA da década atual está 0,3C mais frio que o da década anterior. 

Todas as demais estações do ano de Curitiba esquentaram de forma quase uniforme na comparação entre as normais: +0,5C (DJF e MAM) e +0,4C (SON).

Olhando isoladamente cada mês, nenhum mês de Curitiba esfriou ou se manteve estável. Todos esquentaram ao longo das 6 décadas e meia objeto de análise. Contudo, cabe ao mês de novembro o selo de mês que se manteve mais estável, pois houve um aquecimento de apenas +0,1C entre as normais em questão. Já os meses de abril e junho foram aqueles que mais esquentaram, com +0,9C entre as duas normais. Em tendência contrária, vale destacar que estes três meses inverteram suas trajetórias ascendentes e passaram a apresentar médias declinantes na década atual quando comparados com a década anterior.

Mesmo com as mudanças ocorridas ao longo do tempo, Curitiba continua sendo a capital mais fria do Brasil em todos os critérios médios e considerando normais climatológicas (que explicam de forma mais concisa o clima de uma localidade. Curitiba continua apresentando média anual mais baixa, inverno mais frio e verão mais fresco na comparação com Porto Alegre, a segunda capital mais fria do país. Entretanto, Porto Alegre nunca esteve tão próxima de Curitiba em relação à média de julho, justamente o mês mais frio do ano em ambas as cidades. Na distante da década de 70 a diferença entre as duas capitais na média de julho era de 1,4C. Na década atual está em apenas 0,1C

Abaixo os dados completos de Curitiba!





segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Evolução do Clima de Porto Alegre/RS

Abaixo segue a evolução da temperatura na estação de referência de Porto Alegre, no INMET, desde 1951. É importante destacar que alguns meses nestes 64 anos de dados foram perdidos ou foram substituídos pelos dados do aeroporto Salgado Filho (sem dados muito discrepantes do INMET). Bem verdade que foram poucas as omissões (total de 11 em 766 meses) e substituições (total de 4 em 766 meses), sendo 1954 o ano com maior número de omissões (4) e 1986 o ano com maior número de substituições (2).

O resultado do estudo traz uma conclusão simples: Porto Alegre aqueceu ao longo destas 6 décadas e meia. Tanto na média anual quanto em cada uma das quatro estações (representadas pelos trimestres DJF, MAM, JJA e SON) houve incremento da temperatura. Na década de 50 a média anual de POA era de 19,4C, enquanto que na primeira década do novo milênio esta mesma média já estava em 19,9C. 

A estação do ano que mais esquentou foi a primavera (SON). Avaliando apenas sob a ótica de uma normal climática (período de 30 anos) temos um crescimento de +0,5C na temperatura da primavera portoalegrense na comparação da normal 61/90 com a semi-normal (que já é quase uma normal!) 91/2014. Já a estação que menos esquentou foi o inverno com apenas +0,2C de incremento de temperatura entre estas duas normais. Portanto, aquele dito popular "não fazem mais invernos como antigamente", na verdade deveria ser aplicado à primavera! A estação das flores de outrora não existe mais!

Na análise mensal, temos de tudo. Temos mês que esfriou, que esquentou e que não se alterou. A grande maioria, contudo, esquentou, caso contrário a média anual não teria aumentado. A análise recém feita sobre as estações mais ou menos nos deu uma dica de quais meses devem ter esquentado mais. Se a primavera é a mais mutante das estações, muito certamente é um mês primaveril aquele que mais aqueceu. E este mês é outubro. A capital gaúcha tem hoje um mês de outubro 6 décimos mais quente que aquele que tínhamos na antiga normal. Isso é um aquecimento muito forte para um período tão curto de tempo, ainda mais se pensarmos que esta pode ser uma tendência de crescimento linear. O mês que se manteve inalterado é apenas um: fevereiro! Mantém-se estabilizado em 24,7C. O mês que esfriou é igualmente apenas um. E é justamente o mês mais frio do ano: julho! Este mês perdeu 3 décimos de sua média ao longo das 3 normais em análise. Portanto, o inverno portoalegrense tem tido um miolo mais frio que aquele vivido pelos nossos avós. Isso não é um fato interessante em uma época de aquecimento e onde alarmistas falam incessantemente que o inverno gaúcho já não é mais o mesmo? A verdade é que o que vem mudando para o calor de uma forma mais intensa na capital gaúcha são as outras três estações!

O caso específico da primavera tem me chamado bastante a atenção em Porto Alegre. No passado recente (últimos 10 anos), pude experimentar ondas de calor fortíssimas em setembro, outubro e novembro. Os anos de 2004 (setembro) e 2009 (outubro e novembro) foram especialmente marcantes com marcas próximas a 40C na capital gaúcha em eventos bastante específicos. Isso sem falar algumas outras ocasiões neste mesmo período onde máximas elevadas de 35C foram registradas com uma frequência, digamos, atípica. A causa disso ninguém sabe ao certo. Alguns ligam estes eventos ao desmatamento da Amazônia, que acaba postergando o início do período chuvoso no centro-oeste e sudeste em um período do ano em que o sol já está próximo do zênite. Outros falam num posicionamento anômalo de altas pressões atmosféricas sobre o Atlântico Sul que inibem a formação de nuvens. Outros citam o excesso de CO2 na atmosfera, o que acaba por causar o efeito estufa. Eu não tenho opinião formada sobre o caso, mas por mero feeling aposto minhas fichas nas duas primeiras alternativas. Para mim, um weather geek metido a besta, apenas faz mais sentido.

Abaixo os números completos!


Porto Alegre janeiro fevereiro março  abril maio junho
1951/1960 25,1 24,2 23,4 19,1 16,5 14,5
1961/1970 24,4 24,4 22,8 19,8 16,8 14,5
1971/1980 24,4 24,6 23,0 19,6 16,8 14,3
1981/1990 24,9 25,1 23,4 20,7 16,8 14,3
1991/2000 24,7 24,2 23,3 20,4 17,2 14,5
2001/2010 25,0 24,8 24,1 20,7 16,9 15,2
2011/2014 25,5 25,7 22,9 20,5 17,1 14,6
Normal 61-90 24,6 24,7 23,1 20,0 16,8 14,4
Normal 81-10 24,9 24,7 23,6 20,6 17,0 14,7
Semi-Normal 91-14 24,9 24,7 23,6 20,5 17,1 14,8








Porto Alegre julho agosto setembro outubro novembro dezembro
1951/1960 14,0 15,2 16,4 19,2 21,6 23,3
1961/1970 14,4 15,1 16,9 19,2 21,4 23,4
1971/1980 14,6 14,9 16,9 19,2 20,7 23,3
1981/1990 14,3 15,6 16,5 19,5 21,6 23,1
1991/2000 13,8 15,5 17,0 19,6 21,5 24,0
2001/2010 14,5 15,8 17,0 19,9 21,8 23,5
2011/2014 13,9 15,9 17,8 20,4 22,5 24,5
Normal 61-90 14,4 15,2 16,8 19,3 21,2 23,3
Normal 81-10 14,2 15,6 16,8 19,7 21,6 23,5
Semi-Normal 91-14 14,1 15,7 17,1 19,9 21,8 23,8








Porto Alegre Anual DJF MAM JJA SON
1951/1960 19,4 24,2 19,6 14,6 19,0
1961/1970 19,4 24,1 19,8 14,7 19,2
1971/1980 19,4 24,1 19,8 14,6 18,9
1981/1990 19,7 24,4 20,3 14,8 19,2
1991/2000 19,6 24,3 20,3 14,6 19,4
2001/2010 19,9 24,4 20,6 15,2 19,6
2011/2014 20,1 25,2 20,1 14,8 20,2
Normal 61-90 19,5 24,2 20,0 14,7 19,1
Normal 81-10 19,7 24,4 20,4 14,8 19,4
Semi-Normal 91-14 19,8 24,5 20,4 14,9 19,6

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Imagens do Impressionante Lake Effect de Buffalo/NY

A nevasca que atingiu o oeste do Estado de Nova York nos EUA (ou a região leste do Lado Erie) tem duas grandes motivações: ar congelante proveniente do Ártico Canadense e as águas "quentes" dos grandes lagos, especialmente os da porção sul como o Lago Erie. O ar muito frio em contato com a superfície mais aquecida do Lago faz com que haja transporte vertical de umidade da superfície do lago para a parte mais alta da atmosfera (entre 1500 e 3000 metros). Isso ocorre porque o ar mais quente sobe quando está em contato com o ar mais frio. Portanto, quanto maior for essa diferença de temperatura, maior é a velocidade com que estas nuvens se formam pela ascensão deste ar mais quente da superfície do lago. Isto forma nuvens carregadas de neve! Como nesta época do ano as águas do Lago Erie ainda não estão tão resfriadas (há 2 meses atrás ainda era verão na região), e como em novembro ainda não são esperadas ondas de frio tão fortes como essa que atinge a região, tivemos a oportunidade perfeita para o registro daquilo que os norte-americanos chamam de "Lake Effect".


A imagem acima é a tela da previsão do NCEP para hoje a noite no nordeste dos EUA. Infelizmente a imagem já está impactada por alguns dias de onda de frio sobre a região, mas ainda assim podemos notar a diferença de temperatura entre o lago Erie (com manchas azuis ao redor de +7C) e o que temos na cidade Buffalo/NY (na região em vermelho com temperaturas ao redor de -2C). A imagem em si não evidencia o Lake Effect (contraste entre a superfície do lago e a atmosfera congelada logo acima do mesmo), mas mostra como o Lago está "quente" perto de todo o resto.

Agora vamos aos fatos! No time-lapse abaixo temos na prática aquilo que acabei de descrever! Imagens do Lago Erie em time-lapse mostrando a evaporação de umidade de dentro do lago quando este entra em contato com o ar congelante. Olhem que interessante!

Clique aqui para assistir às imagens do Lake Effect

Não foi a toa que caiu quase 2 metros de neve sobre a região. Tivemos a combinação perfeita para a ocorrência dessa tempestade.

Falou!!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Efeito Microclimático

Diferentemente do que tem ocorrido no Brasil, os Estados Unidos, especialmente sua faixa centro-leste, tem passado por um ano abaixo da média e frio. Não é diferente nesse novembro. Uma onda de frio digna de meados de janeiro, auge do inverno deles, impacta todo o centro o sul daquele país. A imagem abaixo mostra em graus farenheit como essa onda tem afetado a Flórida. O contraste entre o norte e o sul daquele Estado já é bastante interessante de se analisar, pois o gradiente térmico costuma ser bastante forte. O norte é pego em cheio pelas massas de ar frio de origem canadense, enquanto que o sul é ainda muito influenciado pelo Caribe quente.


Entretanto, o nível de detalhe da projeção de temperatura do modelo climático acima nos permite ver o impacto do lago Okeechobee sobre as terras logo ao sul do mesmo quando este recebe ventos frios de norte. Olhem que interessante a linha de ar menos frio exatamente ao sul deste lago. Isso ocorre pq este tem águas aquecidas e quando o ar gelado do norte passa por cima dele ocorre troca térmica entre a atmosfera e as águas do Okeechobee, esfriando o lago e esquentando o ar que segue para o sul!

Abraços a todos!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

sábado, 1 de novembro de 2014

Previsão CFS Novembro/2014

Pela projeção do CFS para novembro/2014 há a possibilidade de termos algumas regiões do sul e do sudeste brasileiro com alguma anomalia negativa. Seria certamente algo atípico neste quente ano de 2014. Porém, por esta projeção o INMET de Porto Alegre continuará sua saga de anomalias positivas em relação à normal 1961/1990, pois a cor branca do mapa indica oscilação entre +0,25C e -0,25C sobre a normal 1981/2010, que é 0,5C mais quente para novembro que a normal anterior. 


Backtesting Outubro/2014

O modelo CFS mais uma vez mostrou um bom nível de acerto para mês de outubro em sua previsão feita na média de saídas ocorridas nos últimos 10 dias de setembro. Vejam que em linhas gerais ele anteviu uma Amazônia mais fria e um sul brasileiro mais quente.

Anomalia no Brasil em outubro/2014

Anomalia no Conesul em outubro/2014

Previsão CFS para outubro/2014

Fechamento Outubro/2014 em Porto Alegre

Ainda sem números oficiais, tudo indica que o mês fechou ao redor de 20,9C no INMET de Porto Alegre, o que configuraria uma anomalia de +1,6C, o décimo sexto mês seguido sem anomalias negativas na cidade! O mapa abaixo mostra a extensão destas anomalias no Conesul. 





Na série 1951/2014, este deverá ser o décimo outubro mais quente de Porto Alegre, atrás de 1977 (o mais quente de todos), 2001, 1967, 2012, 1961, 2002, 2007 e 1990.

O excesso de outubros de anomalias positivas no pós-2000 faz com que a semi-normal 1991/2014 para este mês na cidade tenha a média de 19,8C, o que seria uma alta de +0,5C em relação à normal anterior. 

Resumindo: as primaveras estão esquentando na cidade.