sábado, 8 de abril de 2017

Comparando a Normal Climatológica De 1961/1990 Com a De 1991/2020 Para Porto Alegre, Uruguaiana e Curitiba

A nova normal climatológica - 1991/2020 - ainda não está pronta. Restam apenas quatro anos para que ela se integralize. Porém, já é possível verificarmos como ela está se diferenciando da anterior, a 1961/1990, após 26 anos de dados. As estações analisadas são as do INMET de Porto Alegre/RS, Uruguaiana/RS e Curitiba/PR, e é incrível como a normal climatológica de temperatura mudou de forma distinta para essas três cidades. Enquanto uma esfria, outra esquenta e outra apresenta uma mínima oscilação.

Qual esfriou? Uruguaiana/RS! Dos doze meses do ano, sete nesta cidade do extremo oeste do Rio Grande do Sul ficaram mais frios nos últimos 26 anos, três não sofreram alteração e dois esquentaram. No cômputo anual a cidade acabou ficando mais fria em dois décimos. Vejam na última linha da Tabela-1 abaixo a oscilação em graus celsius entre as duas normais citadas. Todos os primeiros setes meses do ano esfriaram, com destaque para julho (-1,1C) e maio (-0,7C). Os meses que esquentaram foram agosto (+0,2C) e dezembro (+0,1C).

Tabela-1: Médias Climatológicas de Uruguaiana/RS Desde 1951 - Clique Para Ampliar


Agora vamos à cidade que esquentou: Curitiba/PR. A capital paranaense passou por um processo de aquecimento superior em módulo ao resfriamento verificado em Uruguaiana/RS. Todos os doze meses do ano em Curitiba/PR apresentaram aquecimento, sendo nenhum inferior a +0,6C (novembro). Os meses que mais esquentaram foram abril, junho e dezembro, +1,3C, +1,2C e +1,2C, respectivamente. Em virtude disso a cidade viu sua média anual saltar +0,9C, como mostra a Tabela-2.

Tabela-2: Médias Climatológicas de Curitiba/PR Desde 1951 - Clique Para Ampliar


Por último, vamos aos dados de Porto Alegre/RS, a cidade que esquentou, mas não no mesmo teor de Curitiba. Enquanto a capital paranaense esquentou +0,9C na sua média anual, a gaúcha ficou em +0,3C. Dos doze meses do ano em Porto Alegre/RS, o mês que mais esquentou, abril (+0,6) - que também foi o mês que mais esquentou em Curitiba/PR - apresentou o mesmo nível de aquecimento que o mês que menos esquentou naquela cidade. No total, foram 10 meses que esquentaram em Porto Alegre, um que ficou zerado (fevereiro) e um que esfriou -0,4C (julho). Eu como portoalegrense fiquei um pouco surpreso com o dado de fevereiro. Sem analisar os números, eu achava que este mês era um dos que mais havia esquentado na cidade, talvez pela experiência recente de verões muito quentes na cidade. Os dados de Porto Alegre/RS seguem na Tabela-3.

Tabela-3: Médias Climatológicas de Porto Alegre/RS Desde 1951 - Clique Para Ampliar


Fiz um gráfico colocando lado-a-lado a variação mensal das duas normais climatológicas nas cidades estudadas. O eixo X traz os meses e o eixo Y a variação em graus celsius entre estas normais. Percebe-se uma correlação maior entre o "comportamento" das linhas de Porto Alegre e Uruguaiana, estando Curitiba levemente mais destoante. Como a análise das tabelas 1, 2 e 3 mostrou, Uruguaiana/RS se mantém mais abaixo da linha de zero, e Curitiba/PR mais acima.


Gráfico-1: Evolução Linear Das Mudanças Mensais da Climatologia de POA, URUG e CTBA


Esse estudo comparativo traz uma visão alternativa sobre o clima do Brasil, onde o consenso é o de que todo o centro sul do país esquentou. Afinal, os dados de Uruguaiana mostram que pode ser que esse aquecimento esteja mais concentrado na porção leste do país. Precisaríamos analisar mais algumas estações do interior do centro sul para constatar isso. Sem realizar nenhum estudo, eu creio que o aquecimento no atlântico sul nos últimos anos pode ter sido um driver importante para esse aquecimento oriental, afinal o vento leste é o dominante em cidades costeiras da região. No caso específico de Porto Alegre, o vento leste, de origem marítima, é o dominante em 80% dos dias do ano conforme o Atlas Ambiental da Cidade. Pretendo realizar um estudo sobre isso nos próximos meses para ver se é possível achar uma correlação importante.

Abraços!