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sábado, 17 de dezembro de 2016

Efeitos do Fenômeno ENSO e da SOI Sobre a Temperatura Média de Porto Alegre

Construí uma série de tabelas apresentando correlações entre a anomalia de temperatura de cada mês da série histórica de Porto Alegre (desde 1951) com dois fenômenos do clima que acredito que sejam main drivers do clima mundial: a Southern Oscillation Index (SOI) e o El-Niño Southern Oscillation (ENSO), dois fenômenos de macro escala tantas vezes já explicados nesse blog e que também podem ser facilmente pesquisados e estudados na internet, logo não vejo necessária a explicação de cada um deles agora, mas sim apresentar o impacto destes sobre o comportamento da temperatura da cidade de Porto Alegre.

Nas tabelas é importantes destacar dois pontos: 

1- Os números dentro de cada célula mostram a anomalia de temperatura do mês em questão (cruzamento linha x coluna)

2- As cores mostram a intensidade do fenômeno ENSO ou da SOI no mês em questão. Quanto mais intenso é o comportamento ENSO/SOI, mais intensa é a cor azul ou vermelha. Cores azuis denotam La-Niña e SOI positiva, enquanto que cores vermelhas representam El-Niño e SOI negativa. As legendas estão a seguir:

Legenda de Cores da SOI:

Legendas Cores do Fenômeno ENSO:

As tabelas são bastante autoexplicativas, entretanto achei importante pontuar alguns aspectos que explicarei após algumas delas. Agora, vamos aos dados e análises!


ANÁLISE ANUAL

Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 15 ANOS MAIS QUENTES



Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 15 ANOS MAIS FRIOS

Legenda de Cores da SOI:


Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 15 ANOS MAIS QUENTES



Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 15 ANOS MAIS FRIOS

Legendas Cores do Fenômeno ENSO:


Fica evidente pelas tabelas acima que os anos mais frios de Porto Alegre são muito impactados pela SOI positiva e/ou pela La-Niña. Da mesma forma, anos mais quentes são bastante correlacionados com fenômenos El-Niño e/ou pela SOI negativa. Contudo, não necessariamente a intensidade destes fenômenos está correlacionada com a intensidade da anomalia de temperatura. Notem, por exemplo, que o pico de SOI e La-Niña registrado em 1975 não fez com que aquele ano fosse o mais frio da série. Igualmente, o pico de SOI negativa e El-Niño verificado em 2015 não fez daquele o ano mais quente da cidade.



ANÁLISE DOS INVERNOS - BIMESTRE JUNHO E JULHO (JJ)

Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 10 INVERNOS MAIS FRIOS

Legenda de Cores da SOI:

 
Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 10 INVERNOS MAIS FRIOS

Legendas Cores do Fenômeno ENSO:

Um ponto interessante dos invernos mais frios de Porto Alegre é que, além de obviamente terem uma predominância de meses sob influência da La-Niña e da SOI positiva, é possível que ocorram invernos frios quando o ano se inicia sob forte El-Niño e/ou SOI negativa e este transita para um estado de neutralidade ao longo do ano que pode acabar migrando para um fenômeno oposto no fim do ano. Foi o caso dos anos de 1983, 2016, 1988 e 1964. Os anos de 2009 e 1990 mostraram-se bem atípicos, contudo.

Destaca-se também o papel importante da SOI. Os 8 invernos mais frios da cidade ocorreram, TODOS, sob SOI positiva e/ou neutralidade.


Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 10 INVERNOS MAIS QUENTES

Legenda de Cores da SOI:


Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 10 INVERNOS MAIS QUENTES

Legendas Cores do Fenômeno ENSO:

Os invernos quentes talvez sejam o evento com maior número de padrões identificados entre todas as tabelas, ainda assim há uma grande constatação: invernos quentes não ocorrem sob influência de La-Niña! Todos os 10 invernos mais quentes da cidade ou estavam sob influência de El-Niño ou sob neutralidade. Outras três constatações estão bem definidas: 1- a SOI é quase sempre negativa nos meses de invernos quentes. 2- é grande a prevalência de fins de ano sob forte El-Niño quando o inverno na cidade é quente. 3- é comum a ocorrência de invernos quentes após um verão sob influência de La-Niña e/ou SOI positiva.



ANÁLISE DOS VERÕES - BIMESTRE JANEIRO E FEVEREIRO (JF)

Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 10 VERÕES MAIS FRIOS

Legenda de Cores da SOI:


Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 10 VERÕES MAIS FRIOS
Legendas Cores do Fenômeno ENSO:

Os verões frios de Porto Alegre mostram-se com comportamento bastante aleatório quando analisados sob o guarda-chuva do Fenômeno ENSO. Não há uma regra clara. Há anos inteiramente influenciados por La-Niña ou El-Niño, bem como anos de transição - tanto para um lado como para o outro. Contudo, quando analisado sob a ótica da SOI, fica evidente a sua influência. A grande maioria dos verões frios de Porto Alegre ocorrem sob SOI pendendo para o lado positivo. Na análise do invernos mais frios, a análise da SOI também foi bastante destacada e semelhante.


Anomalia de Porto Alegre x Comportamento da SOI - 10 VERÕES MAIS QUENTES
Legenda de Cores da SOI:


Anomalia de Porto Alegre x Fenômeno ENSO - 10 VERÕES MAIS QUENTES

Legendas Cores do Fenômeno ENSO:

Os verões mais quentes de Porto Alegre são absolutamente aleatórios. Podem ocorrer sob La-Niña ou El-Niños fortes, além de SOI positivas ou negativas. Os anos aos quais estes verões estão inseridos também não apresentam um padrão, pois podem apresentar transição de El-Niño para La-Niña, e vice-versa. Da mesma forma, também podem ser inteiramente influenciados por La-Niña ou El-Niño. 


CONCLUSÃO

Penso que são duas as maiores conclusões desse estudo:

1- Anos quentes ou frios são muito correlacionados com o Fenômeno ENSO e com o desempenho da SOI. É notável como as tabelas de análise anual são bastante marcadas pelas cores azul e vermelha pra explicar anos frios e quentes, respectivamente.

2- A SOI tem papel muito importante para explicar o desempenho de uma estação fria ou quente. O bimestre ou estação recorde normalmente ocorre sob condições de SOI bem definidas. Verões frios (bimestre JF com SOI quase sempre positiva), invernos quentes (bimestre JJ com SOI quase sempre negativa) e invernos frios (bimestre JJ com SOI quase sempre positiva) estão muito correlacionados com o desempenho da SOI nos meses que integram o bimestre em questão. A exceção fica por conta dos verões quentes, que apresentou-se com comportamento aleatório na relação com a SOI.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Mais Uma Evidência De Que Não Há Aquecimento Global Provocado Pelo Homem

Após bater o recorde de calor desde o início das medições em fevereiro/2016 (comentado AQUI em post feito em 12 de março/2016), o Planeta Terra voltou a entrar em tendência de resfriamento. O gráfico abaixo mostra como a temperatura da baixa troposfera retomou patamares próximos ao normal. Em fevereiro/2016 a anomalia que era de +0,83C, em 4 meses caiu quase meio grau, atingindo +0,34C. 



Conforme previsto por mim no post de março/2016, a temperatura global manteve correspondência com o comportamento da temperatura dos oceanos, que é especialmente explicada pelo fenômeno ENSO (Oscilação do Oceano Pacífico entre El-Niños e La-Niñas). A ONI Index, que é o principal índice que mede a volúpia deste fenômeno, chegou a atingir +2,3 em dezembro/2015, o que igualou o recorde de ONI de dezembro/1997, período o qual registrou o último grande episódio de El-Niño no Planeta. Em maio/2016 a ONI bateu +0,7, ou seja, um tombo enorme que acabou resultando no retorno da temperatura global para um patamar próximo de sua média histórica conforme ilustrado pelo gráfico acima.

Mais e mais sinais vão mostrando que o tão propagado CO2 não é o principal driver da temperatura global. Sigo monitorando e esperando um sinal que mostre que realmente estamos passando por aquecimento global impulsionado pela emissão de gases de origem fóssil. Entretanto, ainda não encontrei. Em 14 de dezembro/2015 escrevi bastante sobre isso. Segue o LINK.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Abril Mais Quente da História de Porto Alegre?

Até agora a resposta é um acachapante SIM! Olhando os dados da estação de referência climatológica de Porto Alegre, do INMET, temos até este momento uma média de 24,8C para o mês de abril de 2016, o que representa um enorme desvio de +4,8C em relação ao normal esperado para o mês. É a maior anomalia já vista na cidade em abril e, se continuar nesse ritmo, irá superar o desvio registrado em agosto de 2015, de +5,0C, o maior da série monitorada até então! Abaixo o mapa de anomalias no Brasil e regiões adjacentes neste mês até o presente momento:





É certamente um mês histórico para o clima da cidade e região, afinal duas anomalias dessa magnitude em um espaço tão curto de tempo jamais foi visto antes. Eu, como um aficcionado pelo tema, presumo que todo esse calor recente é resultado de uma combinação explosiva: vivemos o maior El-Niño desde 1917, cujos valores de anomalia atingiram uma sequência recorde acima +2,0C no Pacífico Equatorial (5 meses seguidos), aliada a valores baixíssimos da SOI, um índice que, quando em patamares baixos, denota uma estabilização dos jatos atmosféricos que controlam o influxo de massas de ar frio para médias latitudes como a nossa. Simplificando: as variáveis que comandam a atmosfera estão extraordinariamente propensas à criação de bloqueios sobre o Brasil, o que concentra frentes frias mais ao sul (o mapa de anomalias acima já mostra o norte da Argentina com temperaturas abaixo do normal devido à retenção das massas de ar frio sobre o país vizinho).

Entretanto, um novo componente está em jogo: os dois principais modelos de previsão do tempo, GFS e ECMWF, projetam a entrada de uma poderosíssima onda de frio sobre o sul do Brasil a partir de segunda dia 25. A força do ar frio é tão grande que seria classificada como intensa mesmo no auge do inverno. Diria ainda que, a confirmar essa tendência apontada pelos modelos, será a maior onda de frio a assolar o país desde aquela que trouxe a nevasca nas serras sulinas em 27 de agosto de 2013. Os mapas de projeção de anomalias do modelo norte-americano (GFS) para terça e quarta feira da semana que vem ilustram bem a situação.

Desvio de temperatura em relação à temperatura máxima normal para abril (terça-feira)

Desvio de temperatura em relação à temperatura máxima normal para abril (quarta-feira)


Reparem que a máxima poderá ficar até 10C abaixo do normal! É realmente um contraste muito grande, especialmente quando uma semana antes tínhamos 10C ACIMA do normal. É claramente um choque climático. Uma transição jamais vista pela Porto Alegre contemporânea. Em virtude dessa possível transição, esse histórico mês de abril caracterizado pelo calor, poderá perder o seu atual status de recordista de calor (em valores médios e de máxima absoluta) para o abril do ano de 1980, quando a média de Porto Alegre para o mês ficou em 22,3C. 

Fiz uma projeção, e esta apontou que, confirmando o cenário acima, Porto Alegre fecharia com média de 22,3C, também! Curioso, não? Bom, vamos acompanhar e ver como termina esse bizarro mês de abril. Já imagiram se o recorde de frio e calor para o mês sejam registrados no mesmo ano?



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

2015: O Inverno Mais Quente da História do Sul do Brasil

Com a liberação dos dados oficiais de temperatura média do mês de agosto/2015 por parte do Instituto Nacional de Meteorologia Brasileiro (INMET), foi confirmada a tendência verificada nos últimos meses de que o inverno de 2015 seria o mais quente de toda a série monitorada em Porto Alegre. Em Uruguaiana, no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Sul, que na verdade tem seus dados baseados na informação oficial da cidade vizinha (do outro lado do rio) de Paso de Los Libres, este valor histórico também foi confirmado. Já em Curitiba, capital do Paraná, o inverno de 2015 não conseguiu superar o de 1995 como o mais quente da sua série. Ainda assim, foi por muito pouco! Abaixo os invernos mais quentes para cada uma destas três cidades, considerando inverno a composição dos três meses mais frios do ano: junho, julho e agosto.

Porto Alegre/RS
1- 2015: 17,13C
2- 2001: 16,73C
3- 2005: 16,67C
4- 1986: 16,00C
5- 1958: 15,97C

Curitiba/PR
1- 1995: 15,93C
2- 2015: 15,77C
3- 2005: 15,73C
4- 1977: 15,70C
5- 1958: 15,53C

Uruguaiana/RS
1- 2015: 16,3C
2- 1986: 15,9C
3- 2006: 15,8C
4- 1982: 15,5C
5- 1977: 15,3C

Para quem ainda possa estar questionando o potencial histórico desse inverno, notem que 2015 é o único ano que aparece nas três listas acima, e ainda poderia conseguir a façanha de terminar na primeira posição para estas três cidades! É um acontecimento absolutamente histórico para a climatologia do sul do país, pois além do recorde de calor registrado, foi um evento de larga escala, abrangendo uma vasta região, ao invés de um número mais restrito de cidades.

Esse acontecimento histórico ocorreu quase que exclusivamente em virtude do mês de agosto, pois até o encerramento do mês de julho o inverno apresentava um comportamento apenas levemente acima do normal nas três cidades. Entretanto, com o início de agosto, um sistema de alta pressão no centro do Brasil e em alto mar no Atlântico atuou como um forte inibidor para a entrada de frentes frias no sul do país, o que resultou no mês de agosto mais quente da história para estas três cidades. Aliás, foi o mês de inverno mais quente já registrado nestas cidades para toda a série estudada (desde 1951). Abaixo os dados de agosto e o seu respectivo desvio em relação à média (1961/1990).

Porto Alegre: 20,2C (+4,8C)
Curitiba: 17,4C (+2,9C)
Uruguaiana: 18,8C (+3,9C)

Os invernos mais quentes que o normal dos últimos quatro anos têm causado uma mudança na climatologia das três cidades. Porto Alegre apresentou um aquecimento modesto entre a normal de inverno em vigor (1961/1990) para a que está em construção (1991/2015). Enquanto a média de inverno era de 14,7C, agora a mesma vai mudando para um patamar já de 15,0C. Em Curitiba o salto é ainda maior, de 13,8C para 14,4C. Uruguaiana subiu de 14,1C para 14,5C.

O super El-Niño desse ano comentado aqui é o maior culpado por esse evento histórico conforme os especialistas.

Boa noite!