sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Recorde de Calor no Brasil, Recorde de Chuva no RS e Recorde de Frio na Argentina!

Hoje Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte registraram 42,8C, 36,0C e 37,4C, respectivamente, em suas estações oficiais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Foi um dia histórico para a climatologia da região sudeste do Brasil. A capital carioca registrou a terceira maior temperatura da sua história e Belo Horizonte alcançou seu recorde absoluto de 105 anos de dados!




O calor absolutamente anômalo no sudeste brasileiro é claramente ilustrado pelo mapa de anomalia acima, que mostra a discrepância da temperatura média na região nos últimos 5 dias. O mapa também mostra que no mesmo período o oeste e o sul do continente estiveram muito mais frio que o normal. Uma coisa interessante no mapa é que parece haver quase que um "eixo infernal" entre a localização  das 3 capitais do sudeste no mapa. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte praticamente formam aquela região com vermelho mais intenso, que é justamente onde mais tem feito calor nestes últimos dias.

O mês de outubro/2015 tem sido igualmente muito acima do normal para o sudeste do país. Uma "bolha" de ar seco impede o avanço das frentes frias, que acabam ficando estacionadas na região sul, trazendo muita chuva para esta, sendo em alguns momentos com tempestades severas. Foi o caso de Porto Alegre na noite do dia 14 de outubro/2015, quando a tormenta que caiu na capital gaúcha foi acompanhada de rajadas de vento de até 116 km/h na estação da Rádio Gaúcha. A chuva tem sido tão excessiva em Porto Alegre que o nível do Lago Guaíba atingiu o seu maior patamar em 74 anos! No último dia 12 de outubro faltaram apenas 11 cm para que o nível médio do Lago ultrapassasse o patamar do Cais do Porto, localizado no centro da cidade.

Esse contraste entre o sul chuvoso e o norte seco do Brasil também é composto por um terceiro elemento: o frio na Argentina. Os "hermanos" vivem um dos meses de outubro mais frios de sua história. Quase a totalidade da Província de Buenos Aires está com 5C abaixo do normal, sendo que algumas regiões da Provícia de La Pampa alcançam uma anomalia negativa de 7C. A capital argentina, Buenos Aires, tem normal climatológica de 17,7C em Outubro, porém até agora a média está em incríveis 13C.



Dá para dizer pelo mapa acima que, se o mês está quente no sudeste do Brasil (anomalias positivas entre 2C e 3C), na Argentina ele está anomalamente ainda mais frio! 

Curioso, não?


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

2015: O Inverno Mais Quente da História do Sul do Brasil

Com a liberação dos dados oficiais de temperatura média do mês de agosto/2015 por parte do Instituto Nacional de Meteorologia Brasileiro (INMET), foi confirmada a tendência verificada nos últimos meses de que o inverno de 2015 seria o mais quente de toda a série monitorada em Porto Alegre. Em Uruguaiana, no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Sul, que na verdade tem seus dados baseados na informação oficial da cidade vizinha (do outro lado do rio) de Paso de Los Libres, este valor histórico também foi confirmado. Já em Curitiba, capital do Paraná, o inverno de 2015 não conseguiu superar o de 1995 como o mais quente da sua série. Ainda assim, foi por muito pouco! Abaixo os invernos mais quentes para cada uma destas três cidades, considerando inverno a composição dos três meses mais frios do ano: junho, julho e agosto.

Porto Alegre/RS
1- 2015: 17,13C
2- 2001: 16,73C
3- 2005: 16,67C
4- 1986: 16,00C
5- 1958: 15,97C

Curitiba/PR
1- 1995: 15,93C
2- 2015: 15,77C
3- 2005: 15,73C
4- 1977: 15,70C
5- 1958: 15,53C

Uruguaiana/RS
1- 2015: 16,3C
2- 1986: 15,9C
3- 2006: 15,8C
4- 1982: 15,5C
5- 1977: 15,3C

Para quem ainda possa estar questionando o potencial histórico desse inverno, notem que 2015 é o único ano que aparece nas três listas acima, e ainda poderia conseguir a façanha de terminar na primeira posição para estas três cidades! É um acontecimento absolutamente histórico para a climatologia do sul do país, pois além do recorde de calor registrado, foi um evento de larga escala, abrangendo uma vasta região, ao invés de um número mais restrito de cidades.

Esse acontecimento histórico ocorreu quase que exclusivamente em virtude do mês de agosto, pois até o encerramento do mês de julho o inverno apresentava um comportamento apenas levemente acima do normal nas três cidades. Entretanto, com o início de agosto, um sistema de alta pressão no centro do Brasil e em alto mar no Atlântico atuou como um forte inibidor para a entrada de frentes frias no sul do país, o que resultou no mês de agosto mais quente da história para estas três cidades. Aliás, foi o mês de inverno mais quente já registrado nestas cidades para toda a série estudada (desde 1951). Abaixo os dados de agosto e o seu respectivo desvio em relação à média (1961/1990).

Porto Alegre: 20,2C (+4,8C)
Curitiba: 17,4C (+2,9C)
Uruguaiana: 18,8C (+3,9C)

Os invernos mais quentes que o normal dos últimos quatro anos têm causado uma mudança na climatologia das três cidades. Porto Alegre apresentou um aquecimento modesto entre a normal de inverno em vigor (1961/1990) para a que está em construção (1991/2015). Enquanto a média de inverno era de 14,7C, agora a mesma vai mudando para um patamar já de 15,0C. Em Curitiba o salto é ainda maior, de 13,8C para 14,4C. Uruguaiana subiu de 14,1C para 14,5C.

O super El-Niño desse ano comentado aqui é o maior culpado por esse evento histórico conforme os especialistas.

Boa noite!



segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Backtesting CFS Setembro/2015 e Previsão para Outubro/2015

Ao final de agosto/2015 o modelo CFS fez a seguinte previsão para o mês de setembro/2015 pela média de rodadas do modelo nos últimos 10 dias de agosto/2015.



O modelo teve mais uma vez um bom índice de acerto para o Brasil, acertando as anomalias positivas, especialmente para o litoral da região sul e para a região sudeste do país. Entretanto, pela primeira vez desde que faço esse monitoramento o modelo erra de forma mais drástica. Ao invés de temperaturas no entorno da média para a Argentina, o realizado (abaixo) mostrou temperaturas abaixo do normal para o país vizinho.

Brasil

Conesul

Para o mês de outubro/2015 o modelo mantém a idéia de uma Argentina mais moderada ou até abaixo da média e de um Brasil quase que inteiramente quente.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Backtesting CFS Agosto/2015 e Previsão para Setembro/2015

Ao final de julho/2015 o modelo CFS previa um mês de agosto com anomalias positivas entre +1C e +2C no sul do Brasil, mantinha a tendência de anomalias no Chaco (verificada há meses) e uma tendência de anomalias negativas para a Patagônia, no sul do continente.

CFS para Agosto/2015

O realizado nos dois mapas abaixo mostram que o modelo teve um bom grau de acerto na tendência geral, mas errou na magnitude da anomalia positiva verificada, especialmente no Rio Grande do sul, onde estações chegaram a registrar o mês de agosto mais quente da história com anomalias entre +4C e +5C.

O modelo acertou o frio na Patagônia e errou pela primeira a mancha de anomalia negativa no Chaco, embora uma estreita faixa da região, na Argentina, tenha sido mais fria que o normal.


 Realizado América do Sul/2015


 Realizado Brasil/2015


Para setembro/2015 o modelo mantém a tendência de mais calor que o normal para a maior parte do continente, diminuindo um pouco mais a mancha de anomalia negativa do Chaco e eliminando esta mesma da Patagônia. Tudo indica que Porto Alegre incrementará o seu recorde de meses em sequência com temperaturas mais quentes que o normal, atingindo seu 16º mês seguido de anomalias positivas.


 CFS para Setembro/2015

Até o mês que vem!

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Inverno Mais Quente da História de Porto Alegre

O inverno (JJA) de 2015 está quase encerrando, restando apenas 3 dias para o seu fim. Com isso, já é possível fazer uma constatação histórica e bombástica: será o inverno mais quente já registrado em Porto Alegre/INMET desde o início da série do NASA GISS (1949) que conta com dados oficiais da estação do INMET na capital gaúcha.

Junho e Julho foram meses acima da média na cidade, mas sem grandes extremos de calor e frio. Figuraram como o décimo mais quente da série (análise aqui). O problema ou ponto nevrálgico desse inverno de 2015 em Porto Alegre se insere neste atual mês de agosto. Estamos quase no seu fim e a anomalia em relação à temperada normal para o mês está em +4,9C, o que faz desse mês de agosto o mais quente, disparado, de todos os tempos na capital gaúcha. Bate com folga, inclusive, o histórico mês de agosto de 2012, quando a estação do INMET na cidade bateu +3,7C de anomalia sobre a normal histórica.

No cômputo dos 3 meses desse inverno a média está em 17,16C. Tudo indica que não ficará muito distante disso em virtude dos poucos dias que restam para o encerramento da estação. Sendo assim, o ranking dos TOP-5 JJA mais quentes em Porto Alegre passará a ter a seguinte configuração:

1) 2015: 17,16C (até o momento)
2) 2001: 16,73C
3) 2005: 16,67C
4) 1986: 16,00C
5) 1958: 15,97C

O inverno de 2015 vai fechando como uma aberração sem precedentes para o clima de Porto Alegre. Abaixo o mapa mundi com as anomalias registradas nos últimos 90 dias (praticamente todo JJA) mostra como esta aberração se inseriu no contexto global.



Nota-se uma clara correlação entre o fenômeno El-Niño no Oceano Pacífico equatorial e as anomalias positivas do sul do Brasil. Ao mesmo tempo, também é destaque o frio além do normal no sul do continente sul americano (Patagônia) e no continente antártico, o que evidencia um frio represado mais ao sul neste inverno.

Com a conclusão do inverno, prepararei uma análise mais completa sobre a estação incluindo dados de outras estações do sul do Brasil, embora de antemão já seja possível dizer que vivemos um evento extraordinário no clima sul-brasileiro. O ano de 2015 será para sempre lembrado como "o ano sem inverno".

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Calor em Pleno Inverno 2015

O Estado do RS e o Conesul apresentam as maiores anomalias positivas do mundo extrapolar (região que exclui os polos e que conta com um dinamismo climático muito menor que estes últimos) nos últimos 15 dias. O calor absolutamente atípico que estamos experimentando desde o sudeste do Brasil até o centro da Argentina é evidenciado pelas maiores escalas de anomalia do mapa abaixo.



Não é possível perceber por este mapa, contudo, a existência de um bloqueio no meio do Oceano Atlântico que impede o avanço de frentes frias sobre o centro do continente e que acabam ficando bloqueadas na patagônia. Temos que analisar um mapa de pressão atmosférica, abaixo





É possível perceber que estes bloqueios são sistemas de alta pressão de larga escala que provocam ventos de sentido norte na América do Sul e de sentido sul na África, o que resulta no influxo de ar gelado para aquele continente. Enquanto isso, nós "torramos"... São estes bloqueios os causadores do aquecimento local. 

Porto Alegre está com um desvio de +7C nestes primeiros 10 dias de agosto, o que equivaleria dizer que estamos tendo um padrão que seria típico de ser vivenciado na segunda quinzena de novembro. Esta anomalia de Porto Alegre é uma evidência do aquecimento global, então? Nops... O outro gráfico abaixo mostra que o mundo está apenas com uma leve anomalia de +0,17C sobre a sua média histórica, inclusive apresentando uma tendência de queda nos últimos 10 anos. 





Há regiões no mundo onde os últimos 20 ou 30 dias tem sido igualmente anômalos, porém num sentido oposto ao nosso. Vejam como o norte da Europa e boa parte dos Estados Unidos estão vivendo um período razoavelmente abaixo do normal para uma época do ano que se espera justamente mais calor. Isso sem falar que são regiões de invernos rigorosos. Certamente nestas regiões a população local deve estar lamentando a dificuldade de se registrar dias quentes e mais aproveitáveis ao ar livre. Imaginem o caso do povo escandinavo. O verão de lá é quase tão frio como um inverno portoalegrense. Com a anomalia abaixo devem estar experimentando um verão como se fosse um inverno rigoroso na capital gaúcha. 


Últimos 30 dias na Europa



Últimos 20 dias nos Estados Unidos



Assim como ocorre em diversas outras regiões do planeta penso que o aquecimento que estamos passando aqui no sul do Brasil é absolutamente local e, acho, também pontual. Talvez esses eventos anômalos estejam mais exacerbados no passado recente com o advento de fenômenos El-Niño mais potentes, que são eventos que acabam por esquentar as águas do Oceano Pacífico equatorial. No nosso caso sul brasileiro também vejo uma correlação destas anomalias de calor e frio com a temperatura do mar da nossa costa atlântica. 

Os mapas abaixo contrastam a situação da temperatura dos oceanos. O primeiro mostra o dado atual (um ano tipicamente quente) e depois o ano de 1988 (um ano tipicamente frio). A diferença é gritante e pode ser considerada uma evidência do quão expostos estamos às oscilações da temperatura dos oceanos ao nosso redor.


Anomalia de Temperatura dos Oceanos em 10/08/2015 (um ano quente)


Anomalia de Temperatura dos Oceanos em 10/08/1988 (um ano frio)


Estas águas historicamente desempenham um papel importante no nosso clima. Estou preparando um post correlacionando estes mapas de temperatura da superfície do mar com o comportamento dos nossos verões, invernos e anos aqui na nossa região. Não tenho nada pronto ainda, mas numa análise rápida já deu para notar que temos um grau de dependência relevante destas águas.